Ansiedade Infanto – Juvenil. Como diagnosticar na pandemia?
Por: Rivane Monten
O bebê vivencia o processo de ansiedade desde o primeiro momento de vida, durante o parto ao ser retirado do aconchego uterino e se vê diante da estranheza do novo ambiente. Inclusive este cenário nos últimos tempos tem sido representado através do parto humanizado que tem como perspectiva o caráter mais humano e acolhedor.
Seguindo a trajetória de desenvolvimento ao iniciar a vida escolar, a criança sente-se ameaçada com a ‘separação’ dos pais e se vê diante do cenário até então desconhecido.
Esta ilustração inicial sobre as primeiras situações em que a ansiedade se faz presente na experiência humana, e como podemos minimizar os efeitos e lidar com a possibilidade de sua presença.
A sensação causada pela ansiedade é difusa na compreensão, desagradável e frequentemente acompanhada de cefaleia, alteração nos batimentos cardíacos (palpitação, aperto no peito) e desconforto abdominal, além de causar inquietação no comportamento. Ela soa como um sinal de alerta, que avisa sobre um risco iminente, e possibilita a ação de medidas para o enfrentamento do que para o indivíduo é uma ameaça. Possui um caráter desconhecido e sua origem pode estar ligada a situações conflituosas.
Os fatores estressores de ordem interna e externa causam sofrimento que desequilibram o bem-estar, propiciando a instalação do processo de ansiedade. Devido à ausência de clareza sobre a ordem dos sentimentos, e a percepção distorcida da realidade, por esta se apresentar como resultado destas desordens, a ansiedade vai gerando um circuito de adoecimento psíquico.
“…o psiquismo humano é uma consequência do entrecruzamento entre os dois inconscientes, o inconsciente biológico e o inconsciente social“ (Wallon, 1931)1
O organismo humano possui sua ‘lógica biológica’ que se organiza dentro do calendário maturacional e o contato com o meio resulta a formação de seu inconsciente social.
O DSM III (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a partir da terceira edição corroborou pelo estímulo as pesquisas da ansiedade em crianças e adolescentes, onde o fator investigativo no tratamento da ansiedade no adulto apresenta a prevalência dos transtornos de ansiedade verificados desde a infância.
A prática clínica evidencia que o transtorno de ansiedade em criança é eventualmente precipitado por ocorrências estressantes do cotidiano, como ansiedade de separação e a fobia escolar, mencionadas anteriormente. Que podem desenvolver ou, por exemplo, exacerbar após uma perda pela doença ou morte de alguém importante2
O Covid-19 e o cenário de isolamento social, além da doença propriamente dita, vêm deixando a população com suscetibilidade ao desencadeamento da ansiedade, o receio pelo acometimento do vírus, o distanciamento do convívio sócio familiar, e as consequências oriundas de contágio.
Diante desta condição as crianças e adolescentes estão afastadas das escolas, da convivência com seus amigos, dos familiares, e convivendo com medo que invadiu seu espaço, ora antes preenchido com expectativa de vida. Logo, os sintomas mencionados acima, como falta de ar, taquicardia, se fazem presentes na busca pelo atendimento do médico pediatra, pela semelhança com os sintomas do Covid 19, e que após avaliação clínica concluem ser de ordem emocional, cabendo a este profissional de saúde coletar dados, e quando indicado efetuar os encaminhamentos necessários.
É neste contexto que a comunicação e acolhimento entre os pais e a criança e/ou adolescente se torna ainda mais essencial no dia a dia. Compreender que seu filho (a) pode estar respondendo ao estresse alocado na sociedade através de desordens orgânicas é parte fundamental, e para tanto é imprescindível o cuidado com a sua própria saúde mental.
A psicologia e sua contribuição nesta nova realidade que se impõe, acontece através da compreensão da dinâmica familiar – compreender o todo e as partes, levantamento detalhado do histórico da criança ou adolescente, a escuta da queixa com intervenções breves objetivando a saúde psíquica frente a este sofrimento momentâneo, e que, contudo, deve ser tratado, evitando a permanência do transtorno que poderá acarretar em conflitos na fase adulta.
1 Desenvolvimento psicológico e educação; Psicologia Evolutiva vol 1 – Césas COLL, Álvaro MARCHESI, Jesús PALÁCIOS & Colaboradores.
2 Tratado de Psiquiatria da Infância e Adolescência; Melvin Lewis; Editora Artes Médicas; Porto Alegre, 1995.