Luto em tempos de Covid-19.
Por: Rivane Montenegro
O luto é um episódio natural entre a humanidade, assim como a vida que surge no nascimento, a vida que se finda pelo óbito. Porém, o nascimento é um acontecimento gerador de alegrias, de perspectivas, e a morte é o oposto, o que ocasiona temor e tristeza. Este é o panorama comumente vivenciado, e que diante da Pandemia pelo Covid-19 as pessoas estão tendo que lidar com uma experiência diferenciada…
Hospitalização por si já desperta mal-estar ao paciente, familiares e amigos, mas em tempos ‘normais’ a proximidade entre eles é, em sua maioria das vezes, possível.
A angústia em tempos de covid-19 tem início quando o indivíduo tem o diagnóstico de contágio e que necessitará ficar na unidade hospitalar, que para alguns vem a ser a despedida de seu ente querido, visto que o risco de contágio torna o isolamento é um protocolo a ser seguido pelo cuidado aos demais. Durante o período de cuidados hospitalares o paciente e seus familiares sentem-se fragilizados pela dor da privação de contato, e no caso de agravamento e morte deste, os familiares e sua comunidade deverão no curto espaço de tempo, processar abruptamente o luto.
Para a família e pessoas mais próximas não é possível estar ao lado de quem ama em momentos de intensa aflição vivida pela sua esposa, filho, irmã, amigo… O único elo são os profissionais de saúde, que diante do intenso cuidado a tantos pacientes, são essenciais para ‘divulgar’ as condições de saúde que é desesperadamente tão aguardado nos portões dos hospitais, upa’s e até ao lado de ambulâncias.
Este distanciamento provoca aumento no nível de ansiedade das pessoas envolvidas neste ‘adoecer’. Sim, porque é uma dinâmica de adoecimento coletivo pelo receio do agravamento, pelo medo da perda e pela realidade da ausência.
Quando o óbito se faz presente, dentro deste aspecto repentino, os envolvidos pelo afeto muitas vezes não sabem como enfrentar esta situação de vazio, e terão muito pouco para realizar o sepultamento, que também faz parte do protocolo adotado em caso de contaminação.
Os ritos de despedida realizados pelas diferentes culturas deverão ter nova composição, ampliando ainda mais o sentimento de ‘não poder homenagear a quem amamos’. São condições de sofrimento impostas, que resulta em alguns registros de difícil manejo pelo indivíduo, pois, cada pessoa é detentora de uma resposta a situação por ela experimentada.
- O que propor aos enlutados?
Cada família possui a sua crença, o seu modo de realizar as cerimônias de despedida de acordo seus valores. Devemos conhecer, na medida do que for possível no momento, respeitando e sugerindo alternativas que possa ser importante com objetivo de minimizar esta condição e alcançar os propósitos do que acreditam em sua realidade religiosa/espiritual, e dentro do que é viável em tempos de pandemia. Realização de cerimônia virtual, vídeo chamada, registros através de fotos ou também manter o silêncio. O que se torna relevante é o entendimento sobre as características e opções em viver a sua dor.
- Que suporte pode ser ofertado?
Acolhimento, e oferta de escuta são premissas básicas para o suporte ao enlutado. Estar atento ao seu comportamento para possíveis orientações sobre possíveis encaminhamentos ou ações para compor o processo de luto que é necessário ser processado.
O impacto causado pelo luto gerado pelo Covid-19 tem uma dimensão profunda, pela condição avassaladora da doença, proporcionando resultados de abalo a saúde mental dos que convivem com a perda e por toda a população pela possível condição de infectado ou enlutado.
Não há uma metodologia a ser seguida, conforme dito acima não existe maneira rígida, cada núcleo familiar faz a sua escolha. O luto é uma experiência individual e única, sendo assim precisa ser respeitado1
1 https://efg.brasilia.fiocruz.br/ava/pluginfile.php/73442/mod_resource/content/7/cartilha_luto.pdf