Dependência química e os agravos na Pandemia do Covid-19.
Por: Rivane Montenegro
Durante anos os indivíduos que fazem uso abusivo de substâncias químicas, lícitas e ilícitas, foram rotulados com adjetivos tais como: bêbados, viciados, perdidos, sem vergonha, dentre outros termos pejorativos. Somente em 1964 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu o termo “dependência” para substituir os termos “vício” e ‘habituação’, e em 1967, o termo “alcoolismo” ingressou pela primeira vez no Código Internacional de Doenças (CID-8). Posteriormente no CID-10 (F19 – Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas).
A Organização Mundial de Saúde define a dependência química como o “estado psíquico e algumas vezes físico resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por modificações de comportamento e outras reações que sempre incluem o impulso a utilizar a substância de modo contínuo ou periódico com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, de evitar o desconforto da privação”.
Seguindo essa definição, o Manual de Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV-TR) define a dependência como um padrão mal adaptativo do uso de substâncias, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, caracterizado pela presença de três ou mais dos critérios a seguir, pelo período de um ano1: |
TOLERÂNCIA: Necessidade de quantidades maiores para obtenção do mesmo efeito ou menor intensidade do efeito com a dose habitual.
ABSTINÊNCIA: Síndrome com sinais e sintomas típicos de cada substância, que são aliviadas pelo consumo.
AUMENTO DO CONSUMO E DA QUANTIDADE;
DESEJO PERSISTENTE DE USO E INCAPACIDADE DE CONTROLE;
MAIOR TEMPO DEDICADO EM AÇÕES PARA ADQUIRIR SUBSTÂNCIA;
REDUÇÃO DO CÍRCULO SOCIAL EM DECORRÊNCIA DO USO;
PERSISTÊNCIA DO USO DA SUBSTÂNCIA MESMO COM PREJUÍZOS CLÍNICOS;
A dificuldade na auto-percepção do indivíduo portador da dependência química é multifatorial, devemos focar em todo o seu processo de vida e não reduzi-lo a doença, em sua grande maioria vem como resposta ao que foi anteriormente experienciado, seja através de sofrimento familiar, abuso nas relações, aceitação no ambiente, convivência infantil com uso pelos pais, dentre outros. Além da dificuldade de compreensão pela sociedade sobre o entendimento de que se trata de uma doença, fator ainda muito a ser apreendido.
Os dados epidemiológicos vêm apresentando aumento crescente pelo consumo de substâncias Ilícitas no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)2 realizou o denominado III Levantamento Nacional Domiciliar sobre o Uso de Drogas concluído em 2017, mostrou que 3,563 milhões de brasileiros haviam feito uso em período recente a pesquisa. O percentual encontrado foi:
- 9,9% – relataram ter usado ao menos uma vez droga ilícita;
- 7,7% – consumo de maconha, haxixe ou skank
- 3,1% – cocaína;
- 2,8% – solventes e
- 0,9% crack.

Além do consumo de álcool, onde 16,5% indicaram fazer uso abusivo na dosagem. Homens consumiam em uma única ocasião cinco doses ou mais e mulheres, quatro doses ou mais.
Diante da Pandemia do Covid-19 os fatores de risco pelo contágio e também no sofrimento psíquico, desordens como ansiedade, depressão, e no aumento pelo uso de álcool e outras drogas estão fazendo parte deste episódio histórico na saúde pública mundial.
Diversas causas são propiciadoras, além do isolamento social, o desemprego é um fator condicionante na dependência, sendo ele bem presente neste contexto atual. Estes elementos são propulsores para que a fragilidade se torne mais presente trazendo à superfície, emoções que dificultam a adequação exigida pela pandemia.
A ordem do desejo do indivíduo dependente é o que vislumbra a adesão ao tratamento.
“Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos.” (C. G. Jung)
1https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/casos_complexos/Vila_Santo_Antonio/ Complexo_12_Vila_Abordagem_dependencia.pdf
2 https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34614
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