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MEDOS E DIFICULDADES NA ABORDAGEM AO PENSAMENTO SUICIDA: PERCEPÇÃO, ESCUTA E SUPORTE.

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MEDOS E DIFICULDADES NA ABORDAGEM AO PENSAMENTO SUICIDA: PERCEPÇÃO, ESCUTA E SUPORTE.

Por: Rivane Montenegro

O mês de setembro é dedicado a prevenção ao suicídio, tema de difícil acesso pelo indivíduo que apresenta ideação suicida e consequente percepção de quem está ao lado, logo de que maneira é possível ofertar este cuidado, quais ferramentas utilizar objetivando a retomada pela preservação à vida?

Durante o desenvolvimento humano a formação através das experiências e registros vão modelando a estrutura psíquica, provocando apatia ou são reprimidas diante do sentimento de vazio, gerando angústia à qual não há entendimento da sua origem, mas que lhe causa dor e sofrimento.

Os sinais podem ser enviados ou não, por que na verdade o conteúdo inconsciente pela ausência de possibilidades, resulta em uma condição desfavorável ao seu entendimento, e neste estado de desamparo o descontentamento vai-se formando e preenchendo o espaço através do planejamento do ato, por que para o indivíduo é a “solução” deste emaranhado de conflitos.

Há o mito de quem fala em suicídio não o fará. O pensamento suicida quando expressado pelo indivíduo, está em total dilaceração de seu estado mental, existe claramente a desmotivação pela sua existência e não vislumbra qualquer condição favorável para manter-se, é necessário agir.

E quando não há indícios da real condição do sujeito? Quando aquele (a) indivíduo apresenta “normalidade” no comportamento e de repente precisa de atendimento hospitalar para sanar seu estado de overdose pela tentativa ou que de fato interrompeu sua trajetória?

Relato sobre situação vivida no passado:

Acho que eu vivi por uns anos em um ciclo de sentimentos que se alimentavam da minha insegurança. Como uma pessoa LGBT, eu sempre senti muita culpa por ser gay, por não atingir algumas expectativas que eu imaginava que existiam. Por isso, reprimi características que culminaram no pior sentimento de todos: solidão.

Por muitos anos, não tive muitos amigos próximos, me afastei de familiares, demorei para ter relacionamentos amorosos/sexuais. E me doía muito não ter alguém para me procurar, saber como eu estava. Eu já fazia terapia, mas eu ocultava muitas coisas por não confiar no processo ou me sentir julgado.

Me lembro de diariamente me sentir inútil, esquecível e não amado. Passava horas imaginando como o mundo seria sem mim, quem iria no meu enterro, quem ficaria triste pela minha partida. Mas eu não compartilhava isso com ninguém.

Esse pensamento se transformou em desejos de me machucar, em concretizar esse desejo de “aliviar” o mundo da minha presença. Eu “planejava” ações, mas a ideia de dor me afastava da execução. Mas no dia em que descobri que a melhor parte da minha vida era uma farsa (terminei um noivado), eu perdi o medo. Eu senti que não importava pra ninguém e que não tinha outra forma de tirar a dor a não ser cortando pela raiz.

A minha sorte foi que eu estava errado e tinha gente que se importava comigo e quando fui hospitalizado, recebi carinho e suporte. Graças a isso, comecei a me dedicar à terapia e lutar por um melhor equilíbrio mental.

Este relato não é mais um número, ele simboliza o tão devastador vem a ser o sentimento que mobiliza o indivíduo, e que através das experiências negativas sucumbe o desejo pela vida. Em contrapartida, apresenta a reconhecimento de si mesmo e a ressignificação de suas emoções. Um grande exemplo da busca incessante pelo respeito a sua condição, seja ela qual for.

– Estima-se que, anualmente, mais de 800 mil pessoas morram por suicídio e, a cada adulto que se suicida, ao menos outros 20 atentam contra a própria vida. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio representa 1,4% de todas as mortes no mundo, tornando-se, em 2012, a 15ª causa de mortalidade na população geral e a segunda entre os jovens de 15 a 29 anos. 1

Como podemos atuar neste cenário que verificamos dados comprometedores da vida e que não estão a céu aberto? Questionamento provocativo aos profissionais de saúde, familiares e sociedade.

A oferta da escuta e atenção ao discurso do paciente é o que viabiliza a compreensão de seu quadro emocional, conduta de livre acesso a todos. Propomos falar sobre a disponibilidade de cada um em proporcionar ao outro acolhimento, empatia e condições favoráveis no processo de adoecimento.

Desconstrução das pré concepções em torno da ideação suicida pelo sujeito acometido pelo processo, e da população em se aproximar deste para ofertar apoio. Não há clareza por parte dos indivíduos que apresentam conflitos internos, este não percebe o quanto se encontra transtornado a diversidade de questões que desencadearam este momento.

Principalmente durante o isolamento social, o qual não tem data limite para término, as pessoas necessariamente estão distantes fisicamente, logo a atenção se faz ainda mais primordial em nos atentarmos a qualquer indício de sinais ou sintomas que contornam a ideação pela morte.

Disponibilidade ao outro nas diversas instâncias que nos atravessa é importante, porém para que possamos perceber o outro é essencial o “reconhecimento” sobre a percepção de si, e para tanto o acompanhamento psicológico é uma das ferramentas que deve estar neste processo contínuo de aprendizagem.

1 https://www.saude.gov.br/images/pdf/2019/setembro/13/BE-suic–dio-24-final.pdf